quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

CASANOVA - LUXÚRIA

Matt Fraction e o brasileiro Gabriel Bá nos introduz em uma jornada de espionagem, conspiração e ficção científica das mais psicodélicas. Originalmente lançado em 2007 pela Image, "Casanova : Luxúria" chegou no Brasil pela Panini Books esse ano (2012) e inclui as edições 01 à 07.

Em um futuro distante, a ordem do mundo é mantida por uma agência chamada I.M.P.E.R.I.O. Seu diretor supremo é Cornellius, centralizador e perfeccionista, quase um "Nick Fury". Seu filho, Casanova Quinn, é um dos melhores espiões da agência, porém seu temperamento explosivo e rebelde o faz sempre entrar em desacordo com o pai. Além disso, Casanova possui uma irmã gêmea chamada Zephyr, que também é agente da I.M.P.E.R.I.O.... Contudo falar de mais detalhes da irmã é extremamente delicado, pondo em risco estragar grandes surpresas da trama.

Você sabe aquelas aventuras futurísticas que se levam muito a sério? "Casanova : Luxúria" tira um grande sarro disso tudo, apresentando uma ficção-científica extremamente divertida e descompromissada. Mas espere aí! A história está cada vez mais confusa! Provavelmente pela narrativa muito particular, reviravolta por cima de reviravolta, cheio de termos pseudo-científicos,  faz de Casanova um trabalho muito autêntico.

A arte simples e cartunesca, porém extremamente dinâmica e precisa de Gabriel Bá puxa o leitor pela mão e o faz mergulhar dentro de uma trama caótica que nem mesmo Casanova entende. Além disso, a coloração ficou por conta da brasileira Cris Peter, que fez um trabalho excelente com uma paleta de apenas 45 cores. Essa limitação acabou criando um clima muito característico para a história, tornando as cores uma marca registrada da obra.

Uma aventura que vale muito a pena conferir!


sábado, 22 de dezembro de 2012

NAÇÃO FORA DA LEI - SANGUE ENTRE IRMÃOS

Lançado recentemente pela Gal Editora e publicada originalmente pela selo Vertigo, Nação Fora da Lei (Outlaw Nation) é obra do grande Jamie Delano, famoso pelos trabalhos realizados em John Constantine: Hellblazer. A arte ficou por conta dos croatas Goran Sudzuka (Y: O Último Homem) e Goran Parlov (Justiceiro, Ken Parker). Sangue entre Irmãos reúne as edições 01 à 11.

Story Johnson é um escritor que passou anos no Vietnã isolado do mundo, sem nenhuma recordação de seu passado. Até que um incidente o põe na estrada de volta aos EUA, a fim de descobrir sua origem e reencontrar sua exótica família, os Johnson.

A história tem uma estrutura típica "road trip", um conceito bem conhecido e utilizado na literatura e no cinema, em que o personagem vai do ponto "A" ao ponto "B", numa jornada em que se desenvolve percalços e reviravoltas. A narrativa é bem interessante, inclusive porque não mostra apenas a saga de Story, mas também dos outros - incluindo os Johnson. Ou seriam os Johnson apenas fruto de sua imaginação perturbada, personagens de seus livros?

Inicialmente confuso, com a introdução dos personagens e alguns eventos impactantes, a história não consegue engatar facilmente e o leitor não se vê apto a concatenar as idéias ali mostradas. Iniciar uma saga desta maneira (Outlaw Nation 01) é extremamente arriscado, pondo em risco a perda de vários leitores casuais. Apenas a partir da edição 02 a história evolui com mais fluidez, mantendo sempre o mesmo padrão fragmentado, focando não só no protagonista mas em outros pontos de vista.

A arte é caprichada, quase cinematográfica, um tipo de traçado bem "limpo" que me agrada muito. Combinou muito com o roteiro, levando a um clima de "faroeste moderno". E digo mais: apesar de confuso, a arte da primeira edição reflete exatamente o caos em que se encontra a psique de Story Johnson.

Cansativo às vezes - afinal, pegar a estrada nunca é fácil - Nação Fora da Lei - Sangue entre Irmãos tem seus pontos altos e baixos. Esse volume não resolve questões básicas sobre quem são os Johnson e o porquê de eles serem tão especiais. Contudo, Jamie Delano tem o mérito de que, enquanto escreve sobre Story Johnson, aproveita para escancarar seu contraditório país, imerso em hipocrisia mas que sempre quer manter uma imagem de bom moço.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

CRÔNICAS DE GELO E FOGO - O FESTIM DOS CORVOS - LIVRO QUATRO

O quarto livro das "Crônicas de Gelo e Fogo" de George R. R. Martin foca na "nova ordem mundial" de Westeros. Após a morte do rei Joffrey e de sua Mão (e avô) Tywin Lannister, Tommem Lannister se torna o herdeiro e Cersei, a rainha regente. Margaery Tyrell casa-se com o jovem Tommem, sacramentando a aliança entre a casa Tyrell com a família Lannister, união esta que logo é abalada por indícios de uma conspiração entre Tyrion Lannister - acusado pelas mortes do sobrinho e do pai - e a própria família Tyrell, que supostamente o ajudou a escapar da prisão.

Asha Greyjoy
Outro foco é na exótica família Greyjoy. Com o rei Balon morto, a dúvida de quem será o herdeiro do trono das Ilhas de Ferro paira no ar. Asha Greyjoy começa a se organizar para reivindicar seus direitos como filha, já que seu irmão mais velho, Theon Greyjoy, há algum tempo está desaparecido. Mas as coisas complicam quando ela é confrontada por Euron Greyjoy, o Olho de Corvo, irmão de Balon, que almeja igualmente o trono. Com sua lábia afiada e planos ocultos, aparentemente seu temperamento tem mais sintonia com o povo salgado, o que torna os planos de Asha mais complicados.

Brienne de Tarth parte de Porto real em uma longa jornada em busca de Sansa, filha de Catelyn Stark, com o apoio surpreendente do próprio Jaime Lannister. Com a Cumpridora de Promessas na bainha, sua trilha não será das mais fáceis já que existe poucas pistas sobre o paradeiro da garota.

Brienne de Tarth

Samwell é mandado para pra Vilavelha, mesmo contra sua vontade, para aprender a ser um grande meistre, além de levar consigo o velho Aemon Targaryen, Goiva e seu filho. Jon Snow, agora comandante da Muralha, determina essa missão a fim também de proteger o ancião, que pode ser sacrificado e seu sangue real utilizado nas magias da feiticeira Mellissandre. Tenso, Sam receia reencontrar sua família, principalmente seu pai, que o julgará fervorosamente já que "nenhum homem de Monte Chifre se dobra ou se verga perante senhores insignificantes", os meitres de Vilavelha.

Enquanto isso, a outra filha de Ned Stark, Arya, chega em Braavos e decide que ali recomeçará sua vida. Seu objetivo agora é firmar uma nova identidade: a de ser "ninguém". Braavos fica pra lá do mar Estreito, onde a cultura é diferente e todas religiões são abraçadas. Lá, Arya conhece melhor o Deus-de-Muitas-Faces e seus adoradores, além de ser recebida pelos sacerdotes do Templo Preto e Branco.

Arianne Martell
Finalmente, conhecemos mais da comunidade dornense, através de Arianne Martell, filha mais velha do príncipe Doran, governante de Dorne. Após a morte de seu tio Oberyn pelo grotesco Montanha, tanto ela como as irmãs bastardas - as Serpentes de Areia - vão de encontro à conduta de seu pai, que se mantem apático e conservador em relação à morte do irmão. Optando por manter a aliança com os Lannister, Doran não quer iniciar um novo conflito e opta por conter as Serpentes de Areia, deste modo amenizar as intenções de revolta para com o Porto Real. Contudo ainda resta sua filha legítima, Arianne, que tem um plano muito mais consistente contra os Lannister e, enquanto seu pai governa, age na surdina numa conspiração que inclui a própria Myrcella, a filha de Cersei...

***

A história desenvolvida nesse volume, apesar de fundamental para a construção da trama, apresenta, em certos momentos, uma lentidão na narrativa que o leitor acostumado com o ritmo mais acelerado de "Tormenta de Espadas" vai estranhar. Certos capítulos, principalmente os de Brienne e Samwell, aparecem apenas para "deixar o livro mais grosso", talvez com o propósito de dar aquela sensação de jornada árdua e percurso extremamente longo e cansativo. Já os capítulos em que Cersei aparece são extremamente divertidos, mostrando que cada vez mais sua loucura pelo poder torna-a mais e mais sozinha. Sua paranoia de conspiração vai crescendo ao longo do livro. Afinal é compreensível,  já que seu filho Joffrey foi assassinado debaixo de seu nariz e seu pai também, logo em seguida, pelas mãos do próprio Tyrion.

Cercei Lannister
Apesar do ritmo mais lento, a maioria das tramas seguem para uma conclusão apoteótica, levando o leitor à sensações conflitantes e de agitação, que só George R. R. Martin consegue prover. "As Crônicas de Gelo e Fogo" continua sendo uma das melhoras sagas de fantasia criadas nas últimas décadas e "Festim de Corvos" está aí pra comprovar.


"Dança com Dragões", aí vou eu!