terça-feira, 22 de janeiro de 2013

AMOUR

Um apartamento vazio. Uma porta lacrada. Um cheiro forte e mórbido no ar. O mistério não demora muito: um bombeiro arromba a porta e se depara com uma idosa na cama, morta, com delicadas flores ornamentando seu leito. Assim começa "Amour" (2012), a obra mais recente do diretor Michael Haneke (Violência Gratuita, Caché), mostrando sem pudor todas as sutilezas desse sentimento.

O filme trata da comovente história de um casal de idosos, Anne (Emmanuelle Riva) e Georges (Jean-Louis Trintignant), que passa por grandes dificuldades quando Anne desenvolve um acidente vascular cerebral. Evoluindo com paralisia de seu lado direito, seu  esposo torna-se seu porto seguro e juntos trilham o que poderia ser considerado o último "capítulo" de suas vidas.

Como na vida real, o filme não possui trilha sonora: o silêncio impera no começo e no final da película. Contudo, durante o desenvolvimento, somos brindados a todo momento com música, já que, apesar de não explícito, a protagonista era professora de piano. No início e com a consciência plena - mas com a limitação dos movimentos - Anne se apega às lembranças e às melodias, muitas vezes ensaiando movimentos descoordenados nos dedos enquanto está deitada ouvindo a música pelos corredores do apartamento. Quando sua situação agrava e ela perde a coordenação da fala, é a cantiga de seu esposo que torna seu fardo um pouco mais suportável... Muitas vezes, restam-lhe a penosa "dança" rotineira, que inclui a fisioterapia, muitas vezes auxiliado pelo seu parceiro Georges.

O cineastra consegue, através de um pesadelo, mostrar como foi impactante para Georges o primeiro episódio, em que Anne fica catatônica na cozinha, prelúdio de sua futura condição. Ele deixa a torneira aberta enquanto vai se aprontar em busca de ajuda, mas antes ela acorda de seu "transe", fechando a pia. Posteriormente, no pesadelo, ele escuta a campainha e segue até o corredor de seu prédio procurando quem tocou. Lá encontra o piso repleto de água e é surpreendido com uma mão direita - que curiosamente corresponde ao lado paralisado de sua esposa - que o sufoca. A água corrente da torneira volta a aparecer no final do filme, dessa vez marcando a conclusão da saga desse casal.

Michael Haneke, com sua direção muito peculiar, quase poética, leva seu filme com seus típicos plano longos, diversos deles estáticos, causando esporadicamente um desconforto proposital ao telespectador. Ele nos faz morador daquele apartamento, chegando ao ponto de conhecermos todos os cômodos, até mesmos todos os quadros da residência! O elenco foi outro acerto: Jean-Louis Trintignant está fantástico, mas Emmanuelle Riva rouba a cena, numa atuação impressionante da enferma em gradativa deterioração.

Apesar de ser uma história triste, ela edifica o conceito do amor, mostrando como o compromisso e o respeito são elementos fundamentais num relacionamento. E isso independente da idade.

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